Por José Leite Netto
Nos dias de hoje e sempre a literatura além de ser um estar-se só, pelo fazer literário, é um ato de AMOR. O escritor ou poeta, como queiram, através de sua cosmovisão cria e recria o seu universo de sentimentos. Amor ou Ódio são duas peças primordiais para o nascimento de uma obra, seja em prosa ou em versos. É necessário que se diga que todo autor carrega em si uma herança cultural obtida através da leitura de outros autores, ou quem sabe, através do inconsciente coletivo, como quer Jung. Não que literatura seja apenas emoção subjetiva. A emoção é o sentimento que suscita uma idéia. É ela quem da ritmo ao poema, reduzindo a palavra a cadência rítmica que necessita o poema ou a prosa. Uma palavra em vão não contém significado intelectual, mas, sim, emotivo. Ninguém diz “Ai” sem ter sentido uma dor ou algo que lhe causasse essa dor. Álvoro de Campos, heterônimo do poeta Fernando Pessoa, soube bem expressar-se num poema intitulado “Opiário”, dedicado ao também poeta português Mario de Sá-Carneiro.
“Eu fingi que estudei engenharia
Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avozinha que anda
Pedindo esmola às portas da Alegria (...)”.
A Alegria a que se refere Fernando Pessoa, com certeza alude ao Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdan. A loucura ou Moria (loucura em grego) aqui podemos interpretá-la como alegria. A loucura ou a alegria foram os fios condutores que levaram o jovem poeta (também português) Mario de Sá-Carneiro a vestir um smoking e disparar um tiro no peito. Já na décima quarta estrofe, escreve Pessoa.
Por isso eu tomo ópio. É um remédio
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.
Aqui Fernando Pessoa transfere a dor e a melancolia do amigo Sá-Carneiro ao poema onde, em seu desfecho, pede a Deus que acabe com tudo isso, abra as eclusas e deixe de brincar de Deus com sua alma. É o eterno sofrer da existência humana reduzida a cadência rítmica do poema. O ritmo de uma poesia esta ligado à emoção que é suscitada de uma idéia, até se formar o poema. Então arisco um axioma:
Emoção + Ideia + Poesia= Poema
Sentimos que toda poesia e toda arte é uma entrega e, portanto um ato de amor girando em torno da emoção e da idéia, e tudo necessita de cultura, até porque jamais existirá LITERATURA, sem POESIA, sem EMOÇÃO, sem AMOR.
5 comentários:
Desvenda-me o mistério da poesia, parabéns.
Coisas simples fazem a "Poética do Amor"
Como diz Paulo Coelho k as coisas mais simples da vida são as mais extraordinárias e só os sábios conseguem vê-la,Assim são as suas poesias!
Concordo com você, Zé...literatura é trasnpiração, trabalho de linguagem, mas é também, e sobretudo, emoção. Discordo do Mallarém quando ele disse que poseia se fazia com palavras e não com ideias... poesia se faz com palavras e idfeias, numa união perfeita. Ótimo texto!
Bjs, Aíla
Belissimo
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