Por josé Leite Netto
Cada poema é um achado, a conclusão de uma metáfora surgindo através dos enigmas. A poesia é o espírito do poema, aquele que percebe o espirito nas coisas do mundo, ultrapassa a fronteira do nada e o transforma em poema. O papel sobre a mesa do poeta, disse João Cabral de Melo Neto em seu poema “A Lição de Poesia”, é um fantasma em branco, ou melhor, enquanto não há nele o verbo encarnado no papel.
“A luta branca sobre o papel
Que o poeta evita,
Luta branca onde corre o sangue
De suas veias de água salgada.”
Stéphane Mallarmé, poeta que considero o mestre do simbolismo, afirma que a poesia é uma criação cósmica sob o signo da beleza do todo. Eis as metáforas ou a alquimia verbal que transforma o espírito das coisas percebidas em poemas. Cada palavra escolhida em “Um Lance de Dados” (1897) inaugura o que conhecemos hoje por poesia concreta. Opá! Mas não foi o próprio Mallarmè quem disse que nomear um objeto seria suprimir parte do gozo do poema que é feito da felicidade de adivinhamos pouco a pouco. Portanto, guiemo-nos pela inspiração e pela sonoridade rítmica dos versos de Mallarmè:
Nada, esta espuma, virgem verso
Apenas denotando a taça;
Como longe afogam-se em massa
Sereias em tropa ao inverso.
Naveguemos, ó meus diversos
Amigos, eu já sobre a popa,
Vós a proa que rompe em pompa
As vagas de trovões adversos.
Empenho-me em pura voragem
Sem mesmo temer a arfagem
A, de pé, este brinde erguer:
Solitude, recife, estrela,
A não importa o que valer
O alvo desvelo em nossa vela.
De pé, erguendo uma taça em torno de uma mesa, entre amigos, disse Mallarmè este soneto com 51 anos de idade em 15 de fevereiro de 1893. Posso afirmar que concordo com os críticos que dizem que “O Brinde” é um dos mais belos poemas que fez e faz de Mallarmè o maestro da poesia. Sobre este maestro do simbolismo escreveu Ricardo Reis – heterónimo de Fernando Pessoa: “A poesia é uma música que se faz com ideias e por isso com palavras.” Teria Pessoa se influenciado pela inquietação e pela concepção de poesia como música, assim como afirmava Mallarmé? Para José Augusto Seabra, tradutor da seleta “Stéphane Mallarmé, Poemas Lidos por Fernando Pessoa, nos diz: “ Dessa forma o poeta marca bem a identidade e a diferença que aproximam e separam, semioticamente, a poesia e a música.” Concordo. Sei que as dificuldades são diversas para uma profunda compreensão da poesia mallarmeana e que o título é pretensioso.
* Brinde: poema traduzido por José Lino Grünewald (poemas de Stéphane Mallarmé – editora nova fronteira)
9 comentários:
Zé,
O blog tá ótimo e vê-lo nesta "nova fase", na investigação e execução das possibilidades do belo, é também fazer-se a busca poética.
Lindo poema, grande achado!
Quanto à definição a respeito da "distinção entre poesia e música", como todo "ser semiótico", sabe-se que o discurso é um olhar que busca dentro de si discordar. Este "viés da linguística" (semiótica) é fascinante tanto mais se dilui na negação do que quase afirma...rs...
Cada um tem sua necessidade poética, né mesmo? E, assim, também achará sua linguagem própria.
Os corações são livres mas há quem pense que batem sincronizados... Pensam até que o mundo é simétrico...
Abraços e parabéns
Érico
valeu poeta.
E que não falte poesia a derramar-se de suas frestas!
Grande Abraço!
Khalil Gibran
hey Baby,
Adorei seu editorial,
formato moderno!
Amo vc.
Meu amigo,sabe que sou fã do seu trabalho e o acomapnho desde o início.
Leio pra sair da realidade ou pra atura-la, pra parar o tempo ou faze-lo segiur em frente, pra relaxar e pra me atormentar tambem; mais do que tudo, leio pra lembrar dos tempos que não voltam mais.
Saudades poeta
Aquele abraço
Antonio Assis
Obrigado a todos por suas leituras.
Como costumo dizer: Literatura e toda manifestação artistica é um ato de amor
Oi, Zé... muita coisa boa por aqui... te seguindo!
Aíla Sampaio
Adorei o blog,é a sua cara! bjuss!!
Muito bom!
Parabéns pelo blog, Neto!
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